Há algumas semanas acordo sempre o mesmo horário às 6h30 da manhã e escuto o jingle de um candidato à reeleição neste ano, não bastasse as propagandas em cada rede social possível. Deixo o café passando na cozinha ao tempo que observo um comício se reunindo próximo ao carro de som. As cores marcantes, famílias reunidas, crianças segurando máscaras com o rosto do candidato, confetes e santinhos. A compra de votos continua sendo uma das principais atividades na cidade, especialmente nas últimas duas semanas de eleição.
O povo sabe quem trabalha pela cidade, é uma rotina muito mais observável do que no período eleitoral. Ouvimos as mesmas palavras serem repetidas ano após ano. Não é a memória um problema regional. Quando faço visitas a casa de um amigo, costumo bater um papo com o porteiro do prédio. Ele sabe me contar quantas vezes viu esse mesmo rosto na política, mesmo quando criança já participou das passeatas políticas. Conseguiram a cirurgia na coluna de uma tia. Tiraram o primo da cadeia. Desvio milionário de verbas públicas. Merenda escolar. A memória não é o problema.
Quem tem vergonha de virar manchete é o filho da vizinha fumando maconha na praça com os amigos. A notícia que se espalha da família política é bem pior que a maconha. Tem sobrenome que é a própria justiça e não há quem se atreva a buscar bicho em mata fechada. Já dizia minha avó: Não se cutuca ‘cobra’ com vara curta.
Essa é a rotina dos últimos anos, acordar cedo para fazer um café e escolher a desinformação que vai te acompanhar. Passo o dia enjoado. Ficou mais simples espalhar mentiras, e quando era mais novo eu me esforçava para falsificar assinaturas na agenda escolar. Por um lado vejo pessoas que esperam ansiosamente elas chegarem, e parte de mim também sente ansiedade. Não se desmonta famílias com realidade. A realidade esfrega na nossa cara que a violência doméstica é solução para salvar casamento. Politicamente tem quem dê a sua contribuição falando: Dane-se!
A informação falsa de que vão comer crianças, queimar igrejas e criar clínicas de aborto em qualquer esquina é no máximo um divertimento. Pessoalmente, não vejo mais tanta graça nessas coisas, especialmente quando se naturaliza esse discurso absurdo. O dadaísmo chegou no WhatsApp, e tem até um vídeo do William Bonner fazendo campanha política para candidato à prefeitura de algum interior.
Quero reforçar dizendo que a memória não é um problema geracional. A barriga da miséria foi muito bem alimentada com medo e promessas que não foram cumpridas. Uma grande concentração de riqueza se adapta às novidades desse século. Já faz algum tempo que o show milionário durante o ano paga algumas contas do mês, e é uma atividade quase religiosamente seguida. Já posso chamar o prefeito de pai. Enquanto voltar para casa de ressaca tá tudo certo, não tem problema essa reciclagem de imagem política.
Assuntos banais
Conheci o trabalho do Rômulo recentemente através do Pinterest, costumo navegar por lá para conhecer artistas incríveis e encontra imagens que expressem aquilo que estou sentindo ou complementem algum texto que estou escrevendo.
Eu fui surpreendido com uma maravilhosa pintura com as imagens de vários cartões emblemáticos da minha infância, alguns tenho guardado até hoje como lembrança. As cores usadas são muito bonitas, criam uma atmosfera nostálgica relativa ao Nordeste, pode ser o fato dele ser de Pernambuco. Sou alagoano e muito do que ele retrata nas pinturas consigo me identificar como se tivesse falando dos bairros da minha cidade. Nós moramos quase debaixo do mesmo sol.
Conheçam o trabalho desse artista incrível!
Eventos de curta duração
O tempo esquentou agora na beirada do fim, estamos em novembro e a sensação é de ter vivido muito em pouco tempo. Um estalo do parabéns aos estalos do São João, agora já vejo decorações de Natal e o verão se alastrar colorido no céu de Maceió.
As eleições aqui foram como o esperado, nenhum mistério resolvido e o meu rosto incide no espelho do ônibus em meio aquela gente, algo ficou melhor? O que posso dizer? Eu também não sei dizer. Votei sem esperança, com certa revolta no coração.
O caso da Braskem é um desastre absurdo que deve ser destacado na história da cidade, e o crime ambiental e social cometido por essa empresa nunca será apagado, após a evacuação de um bairro inteiro e arredores, inúmeras famílias ficando sem ter para onde ir.
Caso Braskem: Um crime silenciado que não consegue esconder as rachaduras
A situação não é bonita. O pranto não comove mais. A Justiça não é cega, apenas seletiva.
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À Política Contemporânea cabem relatórios e mensagens que atraem apenas pessoas desinformadas, alheias ao que é verdadeiro e apegadas às Fake News Dadaístas do WhatsApp. Gostei bastante dessa relação do Dadaismo com aquela coisinha verde comunicativa, as pessoas que se informam nesta são as que tem as piores opiniões entre todas. Sem dúvida alguma, até no Caso da maldita Brasken, que já foi bastante politizado, essa gente que teima em acreditar nas mentiras propagadas naquela Rede Social, com certeza, propagou muitas inverdades.
"A barriga da miséria foi muito bem alimentada com medo e promessas que não foram cumpridas." essa frase deveria ser emoldurada e espalhada!!