Depois que nos tornamos adultos adquirimos novas prioridades, além de hábitos peculiares. Um deles é ter a boca preferida no fogão. A gente sabe que vai ter aquela boca que queima mais rápido o arroz, bem como aquela que não tem uma posição muito favorável em relação ao ambiente.
A minha boca favorita é a que fica no canto inferior direito. Nela fica mais fácil de segurar o cabo da panela enquanto mexo o alimento com uma colher. Além do mais, a chama sai na proporção perfeita, nem muito forte nem muito fraca. Se essa boca tivesse voz, seria a de Aretha Franklin, tamanha a sua graça e perfeição.
As bocas do lado esquerdo ficam muito próximas da pia, logo, ao pôr as panelas no fogo, tenho uma sauna na hora de lavar a louça. Quando todas as bocas estão caladas, gosto de fechar a tampa do fogão para usá-lo como uma mesa auxiliar. Se essa bocas quentes falassem, teriam muito o que contar. Diriam sobre a vez que esqueci de botar água na panela do arroz e queimei o fundo dela. Falariam sobre o dia em que a panela de pressão explodiu, tornando-se uma arma mortal. E o que diriam sobre todas as conversas narradas na cozinha, o coração da casa.
O que diz a Psicologia das Bocas do Fogão? Provavelmente, que as pessoas que costumam usar as bocas maiores são mais ansiosas, já que querem ver prontas o mais rápido possível as suas refeições. Já aqueles que utilizam bocas pequenas em fogo baixo, ah, esses são serenos, sem pressa na vida, good vibes... Obviamente, as bocas sujas alertam da preguiça de seus donos e as bocas escovadas demais avisam do TOC de quem as limpa.
Todo mundo tem aquela boca mal falada, que não esquenta muito ou esquenta demais, que fica falhando... Quase sempre há uma boca abandonada no fogão. Saber usar a boca é um artifício que faz toda a diferença, na vida ou na cozinha. Um bom cozinheiro saberá a intensidade correta da chama para cada momento. Afinal, não é saudável sempre esquentar demais. Não devemos também abrandar com frequência. Ora, é preciso incendiar vez ou outra para manter a chama viva. Uma coisa é certa, entre os dentes de alho refogados e as línguas de fogo haverá um bocado de história para contar!
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