Pousa, Demônio! Pousa! Destrua a linguagem através do silêncio — do grande silêncio, da pausa, da morte! Entregue-nos à sua vontade erótica de matar pelo outro, morrer por si próprio e nascer pelo intestino vaginal causado pela abolição da própria continuidade absoluta que deságua em nada, em nada.
Sentamos aos bancos. É tudo cruel. Aos poucos nosso fetiche em dosagem única ia se desdobrando em realidade imutável — ou não. Passei minha mão pela coxa do meu companheiro. Delirei:
‘’sentes inveja, Cristo? Seu corpo não é presente. Não consegues tocar o pau do seu parceiro e nem acariciar os lábios arenosos de qualquer puta que te entregue o mínimo de servidão. Você excluiu a experiência e a morte de si, logo não existe caminho para o seu corpo molhado. Você não possui mais vagina, nem pelos, nem nada. Onde temos que ir para encontrar seus ossos e dedar seu corpo em putrefação?’’
Os desertos do sagrado, sacrifício entregue ao mais puro suco de desespero alheio. A burguesia se entregou, há muito tempo, para o acaso transgressor e individual — sentes mágoa, individuo?
Os bancos das praças de alimentação fedem a sebo. Fedem a esperma seco. Fedem a calcinhas borradas. Há algo que não se conclui. Há algo que não termina.
ATO I
Há algo que não se conclui. Há algo que não termina.
ATO II
Há algo que não se conclui. Há algo que não termina.
ATO III
Há algo que não se conclui. Há algo que não termina.
Agora, esperando a aniquilação do corpo, adormeço e sonho com cristais puros de indignação. O demônio pesa a pena, balança e renúncia:
Fracos postes feitos de labirintos
Frescos corpos apodrecidos no chão
Garras contentes tocando o seio feminino, cruel.
Para Blanchot, não estou aqui.
Meu pênis é vontade
crucial
Não é delírio
nem o que poderia ter sido, nem é, nem sobrou, nem frasco de seda latente. É espiritual, é carne, santidade. Abominação de oposição sexual. Sacrificado e liberto em esgotos — assim o homem busca sua própria marginalidade atormentada o suficiente para sentir o rabo de Satã em seu útero imaginário.
É trágico, literal, vocabulário. Meus olhos não enxergam mais — são desejo. Perdi os sentidos. Agora servem somente para gozar. Digo ‘não!’ ao aceitar dos sentidos. É pináculo, epistéfe. O sol do meio-dia é da tempestade: não há linguagem o suficiente para morrer. Nada permanece em F.
F > 0
Ou seja: quando Deus acorda, a puta fica feliz.