#7 Joe Bell: Você nunca andará sozinho — O amor que buscamos nas palavras que calamos
Aos que negam que exista preconceito e que ele pode matar e como essa questão se relaciona com a psicanálise?
Eu não sabia da história de Joe Bell e, consequentemente, também não sabia sobre seu filho Jadin Bell.
Olá você que acompanha a nossa Newsltetter quinzenal “O amor que buscamos nas palavras que calamos”.
O filme é inspirado em uma história real que aconteceu em 2013, no Oregon, nos Estado Unidos. Jadin Bell sofria bullying por ser gay na La Grande High School. Ele morreu devido aos feridos sofridos em sua tentativa de suicídio.
Para honrar a memória do filho e conscientizar as pessoas sobre o quanto o bullying é prejudicial, Joe Bell começa um caminhada começando pela escola onde seu filho estudava até Nova York, lugar onde seu filho tinha o sonho de morar um dia. Uma caminhada de mais de 8000 km.
E como essa história real se relaciona com uma terapia como a psicanálise?
O que me impressionou foi a maneira com que o diretor aborda as diversas questões presentes no enredo: a relação de masculinidade e afetividade entre a figura do pai e do filho, o sofrimento nem sempre velado dos adolescentes gays e o discurso homofóbico escolar, o bullying enquanto fator desencadeador do suicídio, a postura da mãe e a maneira com que lida com o luto e o irmão mais novo que faz o que pode com a dor da perda do irmão e a ausência do pai. Esses são apenas alguns dos inúmeros outros pontos que podemos explorar na narrativa do filme.
Mas sinceramente, nada do que citei acima é mais impactante do que a morte de Jadin e de como seu pai toma consciência da gravidade do que aconteceu: seu filho tirou a própria vida em razão de sofrer bullying por ser gay. Por se diferente. Por não se enquadrar em um padrão normativo. E o que mais me chama atenção é que ainda existem discursos que relativizam o preconceito como se ele fosse apenas falta de informação. Sim… existem pessoas que falam da homofobia, racismo entre outros como apenas uma falta de informação. “Ah, ele matou aquela pessoa que era LGBTI+ por apenas falta de informações corretas”…
Deixo aqui a sugestão de que você assinta o filme, disponível na Prime da Amazon, e reflita sobre essa história. Se puder comentar aqui o que achou do filme e de como se relaciona com o que escrevi acima…
Quando falamos sobre uma psicoterapia, pensamos justamente em uma pessoa que está sofrendo e busca tratamento para essa dor. A questão é que vivemos em uma sociedade que é preconceituosa e faz as pessoas sofrerem por apenas serem quem são e não se enquadrarem nas normas socialmente aceitas. Na maioria dos casos só existe dor e sofrimento por ser homossexual porque estamos em uma sociedade homofóbica!
Resposta de Freud para uma carta sobre homossexualidade
Para Freud, a homossexualidade é uma orientação sexual que não se muda com um tratamento psicanalítico.
Assim sendo, a sexualidade é responsável por definir se uma pessoa se entende enquanto homem ou mulher.
Dessa forma, independente do sexo biológico, é a sexualidade que define como o indivíduo irá se identificar.
Curiosamente, Freud recebeu em 1935, uma carta de uma mãe preocupada com seu filho.
Nesse contexto, Freud respondeu a ela o seguinte:
“Deduzo – diz Freud – que seu filho é homossexual. Me impressiona que não use esta palavra em sua informação sobre ele… a homossexualidade não é uma vantagem, mas também não é algo de que alguém deva se envergonhar; um vício ou uma degradação, nem pode ser classificado como uma enfermidade”.
Diante disso, é impossível não lembrar das inúmeras discussões sobre a suposta “cura gay”. QUE É ALGO CRIMINOSO E DEVE SER DENUNCIADO ÀS AUTORIDADES! Como a polícia e ao Conselho Regional de Psicologia.
Freud recomenda que o que a psicanálise enquanto terapia, pode trazer para quem está sofrendo em um mundo em que a homofobia reina…
“Se é infeliz, se vive dilacerado por seus conflitos… a análise pode lhe trazer harmonia, tranquilidade mental…”.
Nós podemos observar, através da troca de correspondência de Freud, como ele se posicionava em relação à homossexualidade. A psicanálise nos ensina que o preconceito contra as homossexualidades é enraizado no "narcisismo das pequenas diferenças", uma forma de rejeição que reflete o repúdio à castração e o não reconhecimento de uma falta constitutiva no Outro. Esse preconceito, tal como os xenofóbicos, raciais ou misóginos, se fundamenta no ódio à alteridade, repetindo a dinâmica de exclusão e violência contra o que é diferente.
No combate à homofobia, nós lembramos que a OMS retirou a homossexualidade da lista de distúrbios mentais em 17 de maio de 1990, um marco que impediu que a orientação sexual fosse tratada como doença. Essa mudança foi uma vitória significativa para o movimento LGBT+, que adotou essa data como o Dia Internacional de Combate ao Preconceito e à Violência contra Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros. Apesar desse avanço, muitos países ainda criminalizam a homossexualidade, punindo-a, em alguns casos, com a pena de morte. Isso nos impulsiona a continuar promovendo campanhas para eliminar essa forma de punição.
Artistas, intelectuais e celebridades têm se posicionado contra essas injustiças, e com o crescente acesso à informação, nós compreendemos melhor a complexidade das questões de gênero e sexualidade. Judith Butler, em sua obra, nos lembra que a recusa em reconhecer identidades LGBTQ+ é uma forma de defesa contra a vulnerabilidade e a interdependência humana, refletindo a resistência às possibilidades de performatividade de gênero. Ao reconfigurarmos o gênero como uma construção performática, como Butler sugere, podemos ver a homofobia como uma resposta à fluidez do desejo e da identidade, que desafia as normas heteronormativas e binárias.
Paul B. Preciado, por sua vez, argumenta que a psicanálise, se reinterpretada, pode ser uma ferramenta de emancipação, ajudando a romper com as normas heterocisnormativas que sustentam o preconceito. Para ele, é necessário uma revolução em termos teóricos para que possamos entender o corpo, o desejo e a sexualidade de forma mais libertadora, sem as limitações impostas pela ordem social vigente.
Ainda que tenhamos conquistado muito, como a Revolta de Stonewall em 1969, que deu início ao movimento organizado pelos direitos dos homossexuais, e a eleição de Harvey Milk, o primeiro político abertamente gay nos EUA, sabemos que há muito trabalho pela frente. A troca da expressão "opção sexual" por "orientação sexual" foi um passo importante, assim como o reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo, alcançado no Brasil em 2011, e o direito ao uso do nome social para pessoas transgênero.
Nós ainda enfrentamos preconceitos e desafios diários. Crianças LGBTQ+ sofrem bullying por sua orientação sexual e identidade de gênero, e muitos se escondem por medo. Por isso, é fundamental que continuemos a lutar contra toda forma de violência, seja mental ou física, e garantir a equidade dos direitos para todos. Sabemos que a mudança não é apenas legislativa, mas também cultural, e como Butler e Preciado indicam, precisamos transformar a maneira como pensamos o corpo e a sexualidade, para que possamos, de fato, superar a homofobia em todas as suas formas.
Amar é permitir que o outro seja quem ele é…
E assim como o mar que desagua, a dor um dia retesada, também desaguou…
O amor que buscamos nas palavras que calamos
é uma publicação quinzenal aqui na IS.
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Indicação de Leitura
Que nem sempre se relaciona com o conteúdo dessa Newsletter
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