Inscrição de um muro do jardim do Centro de Letras e Artes da UNIRIO - Foto do Autor
As dúvidas pontuais no exato momento em que, agora, inicio este texto, me levam a exercer um tal de processo crítico direcionado a mim mesmo. Me pergunto se, realmente, eu deveria escrever sobre crença e descrença, seja esta de qual tipo for, por ser algo que me perturba. A perturbação vem do fato de eu acredito e desacredito, ao mesmo tempo, no que eu escrevo, processo um pouco macabro e cansativo de mim mesmo. Quando acredito, sinto que sempre falta algo; quando desacredito, sou levado a batalhar por escrever de outros modos; concluindo este crente/descrente raciocínio, me sinto dentro de um labirinto próxima à caixa onde se encontra o Gato de Schrodinger.
Tal como o gato dentro da caixa, quando creio ou não em algo relacionado a mim ou a qualquer outro assunto, não me sinto nem vivo e nem morto. O mundo das ideias procura soluções para quase tudo desde sempre e há um tumulto constante dentro de mim me dizendo para ir em busca de indagar a tudo. Indagar o porquê de eu ser um Poeta. Indagar o porquê de eu ser um Escritor. Indagar o porquê de eu ser um Otaku. Indagar o porquê de eu ser um Tokufan. Indago o porquê se eu ser um Gamer. Indago o porquê de eu ser um Livre-Pensador. Indago o porquê de meu interesse em Magia & Ocultismo. Indagar o porquê de eu ser um dos Autores da Impérios Sagrados. Indagar o porquê de eu ser o Fundador e Administrador do Projeto C.O.V.A. Indagar o porquê de eu ser um Estudante de Biblioteconomia. Indagar o porquê de eu ser um Inominável Ser. Indagar o porquê de eu ser Giovani Coelho de Souza.
Eu indago muitas coisas mesmo além disso, as inquietações são bravas, selvagens, brutais… Nada confio em quem diz estar pleno, sem dúvidas e totalmente confiante em si mesmo no meio de um mundo tão propenso a dar mais dúvidas do que respostas a meu ver. Essas pessoas, tão cheias de si e suficientemente repletas de respostas prontas para tudo, me deixam sempre curioso demais. Não se trata, aqui, de defender o pensamento filosófico socrático, passo longe de ser Fanboy de Sócrates (eu sou de Spinoza…). No entanto, quem diz que sabe muita coisa, nada sabe mesmo do que é possível utilizar acerca do mais básico para a sobrevivência de si mesmo, dos outros e de todas as pessoas (Políticos, em geral, enquadram-se nisto). Eu não sei de mais nada há muito tempo, mas não me sinto melhor e nem pior, acima ou abaixo, de quem grita por aí possuir um conhecimento que abre todas as portas do humano microcosmo (lembrei agora de Pastores Protestantes e todo tipo de Líder Religioso). Eu creio nas minhas dúvidas e sou descrente sempre que penso saber algo além das minhas indagações.
A Filosofia é a mãe dos que buscam sempre indagar, insatisfeitos com respostas prontas, achismos risíveis e senso comum barato. A foto de capa deste texto é uma indagação filosófica pertinente e mexeu comigo, fazendo nascer a proposta de escrever algo sobre o que a pergunta carrega. Na mesma UNIRIO, onde registrei a foto, haverá de 25 a 29 de novembro do presente ano a XIII Semana de Filosofia com o Tema A Filosofia do Fim do Mundo, promovida pelo Centro Acadêmico de Filosofia (CAFIL).
O resumo do que se trata o Tema de tal Semana é este, extraído do Perfil do Instagram do CAFIL:
“Os tempos atuais pedem discussão sobre a crise climática em curso, e é uma necessidade e compromisso da filosofia articular questões presentes com o conhecimento que estrutura nosso momento. A noção de fim de mundo fala muito sobre o tempo, sobre o espaço e a humanidade como presença em um espaço de tempo no mundo.
Mas o que isso pode provocar quando aprofundamos cada uma dessas ideias com as diferentes perspectivas filosóficas?
Como a epistemologia, a metafísica, a estética, a política, a lógica, as linguagens, a ética, a ciência e tecnologia, as ciências econômicas e sociais, entre todos os outros campos de saberes da filosofia podem contribuir para o debate ecológico sobre o fim do mundo?”
Perguntas, perguntas e apenas perguntas levarão a mais perguntas, perguntas e apenas perguntas nesse Evento, no qual marcarei presença. Filosofia não é Auto-Ajuda e nem uma Religião com mágicas soluções para tudo, desde sempre se volta para indagações pertinentes. Para o gosto e o desgosto da massa humana que pensa ou apenas replica o pensamento alheio, esse ramo do Conhecimento Humano não tem a obrigação de atender expectativas, massagear egos ou inflar corações com fanatismos vários. Bem, tradições filosóficas, filósofas e filósofos podem, em alguns casos, até historicamente conhecidos, levar à arrogância, prepotência e autoritarismo. Todos sabemos como a irmã de Nietzsche se apropriou do pensamento dele para corroborar algumas ideias nazistas, o exemplo mais claro e clássico do que defendo como deturpação de um sistema filosófico. Isto pode ocorrer, sim, mas os casos nos quais a Filosofia se presta a ser esclarecedora, iluminadora e condutora de buscadoras e buscadores de respostas reforçam a ideia dela como fundamentalmente importante contra crenças e descrenças.
Mas, eu também duvido da Filosofia como uma meta através da qual uma resposta no meio de milhões de indagações, como as que eu tenho, possa ser alcançada. Creio nela por um lado, sou descrente de outro, fazendo parte de uma turma dentro da Humanidade inquieta, insatisfeita, desconfiada e incomodada perpetuamente com tudo que já foi respondido ou facilmente vêm a ser solucionado. Poucas vezes, nestes meus quarenta e oito anos, alcancei respostas e duvido sempre destas até hoje, sempre duvidarei. Com tudo mudando em mim e ao redor de mim, confiar cegamente nas premissas de algo que eu julgo ser uma resposta não tem muita lógica em sua continuidade. Sim, eu sou uma pessoa confusa, não negarei isto e nem fugirei, me sinto exatamente dentro de uma caixa de Schrodinger, mencionada acima. Sendo como o gato nela aprisionado, paro de respirar quando penso crer em algo e respiro quando analiso o porquê de estar crendo com uma descrença quase absoluta. É bem difícil, a esta altura e da longitude onde estou da Sabedoria, querer ser um mago das certezas dentro de um mundo mutante que, ultraveloz, derruba cada opinião de ontem com uma de hoje e a de amanhã, assim, já nasce bem morta.
Não me julgue um pessimista, senhora leitora, senhor leitor. Mesmo na morte que sinto de modo permanente dentro de mim, há espaço para viver dentro de minhas buscas. Para vocês, deve ser diferente, posto que cada pessoa na Terra possui sempre uma capacidade única de buscar as respostas das quais precisa. A incapacidade é fazer da vida uma doce sinfonia de doces respostas no maior dos doces mundos possíveis de serem modelados conforme Coaches e Gurus se merda pregam. Prefiro a agridoce sinfonia que a minha própria vida é… E isto me faz lembrar de uma música que outro dia redescobri…
Não vou mudar por causa de uma crença ou descrença. Continuarei até chegar na cova duvidando tanto no que eu acredito quanto desacredito. É assim que eu vivo. E sobrevivo.
Giovani Coelho de Souza
O INOMINÁVEL SER
22 de novembro de 2024
22:20 h
Excelente reflexão! "A Filosofia é a mãe dos que buscam sempre indagar, insatisfeitos com respostas prontas, achismos risíveis e senso comum barato": nem sempre a filosofia é isso rsrs Ela também é usada por pessoas de direita, inclusive nazistas, para justificarem seus ideias. Por cristãos para firmarem seus fundamentalismos, vide a longa história na Idade Média. Como disse Hannah Arendt: "Todo mundo pensa, isso não é algo incomum. Todo mundo reflete, isso é algo comum. O que diferencia o ser humano é uma outra capacidade que deriva do pensamento...". E é justamente essa outra capacidade que falta aos seres humanos. Aí entraríamos em outra questão: de que filosofia estamos falando? Porque a filosofia ocidental desconsidera outras filosofias. E aí entraríamos, inclusive, na questão do racismo dentro da filosofia. E da própria branquitude. E aí levaríamos mais tempo ainda tenta refletir sobre "filosofias" que já nascera mortas. E se todo mundo pensa, onde está de fato a questão? Se todo mundo possuo a capacidade de se questionar, onde está a questão? Especialmente, como você muito bem aponta no texto, sobre a questão climática? Parabéns pelo texto!