#9 Terapia. Assassinos. Abusos. — O amor que buscamos nas palavras que calamos
Após assistir o documentário dos "Irmãos Menendez", voltei a pensar no relato de uma caso que atendi anos atrás de um assassino confesso.
⚠️ Antes de falar sobre isso, gostaria de avisar que esse texto pode conter gatilhos para pessoas potencialmente sensíveis aos relatos e/ou que tenham passado por uma situação parecida. Lembrando que só são citados aqui casos encerrados e/ou que a pessoa faleceu.
No último #8 Terapia. Assassinos. Confissões — O amor que buscamos nas palavras que calamos, eu comecei a falar sobre um dos primeiros casos clínicos que atendi e que mudou completamente a minha vida. O paciente que confessou ter matado sete pessoas e que chegou ao consultório armado. Você pode conferir a publicação aqui:
Eu achei, durante alguns meses, que se tratava de um caso clássico de psicopatia ou sociopatia. E tinha a convicção (totalmente errada por sinal) de que ele estava com algum grau altíssimo de psicose. Contudo, nada disso se confirmava. Ao contrário.
— O doutor não vai fazer eu me entregar.
Ele havia justamente acabado de revelar a sua demanda, o seu desejo: se entregar. Foi a primeira frase que ele me disse após confessar que havia matado pessoas. E lembro vividamente que o comuniquei sobre o sigilo profissional e de que eu não poderia falar absolutamente nada, a não ser em casos no seguintes casos previstos por lei:
Quando a pessoa atendida ou terceiros estão em risco
Quando o paciente se coloca em risco à sua integridade
Quando há maus tratos a crianças e adolescentes
Quando há risco de suicídio
Quando há risco de vida para outra pessoa próxima
Quando há determinação judicial
Quando há maus tratos/violência contra mulheres
Informei, ainda, “que a violação de segredo profissional é um delito previsto no Código Penal. Consiste em divulgar, sem justificativa, segredo de que se teve ciência em razão de relação profissional, e cuja revelação possa causar prejuízo a alguém” (link). Lembro que citei mais ou menos isso, pensando muito mais nos motivos dele procurar ajuda do que em todo o código de ética, penal e o caralho a quatro. Eu sabia de todas essas questões, pois, se há algo que eu valorizo é a ética profissional. Mas, afinal, por que ele estava procurando ajuda terapêutica?
— A primeira vez eu dei todas as desculpas possíveis para o que eu fiz. Mas ao seguir o cara, eu vi como ele se relacionava com a tia dele, digo, a mulher dele.
Com o tempo eu percebia que sempre havia um ato falho quando ele fala sobre as vítimas e especialmente quando falava sobre as mulheres, sem distinção de eram as esposas ou amantes. Ele foi contratado para fazer os “trabalhos” (como ele se referia a tirar a vida de outra pessoa) ao longo de oito anos. Começou muito jovem, na adolescência.
Eu estudava, buscava ajuda na supervisão e nada me fazia entender completamente o caso. Até que, em uma das sessões, eu parei de tentar buscar enquadrar ele em uma patologia e simplesmente fazer algo que tanto Freud quanto Lacan disseram ao final de suas vidas: escute, primeiro escute com atenção o seu paciente. Claro que não foi bem isso que falaram, mas no momento não interessa (procura que você encontra as referências bibliográfica em algum lugar), o mais importante é que o paciente disse após alguns meses de tratamento:
— Aí eu tava lá… e me ligaram e eu fui ver o cara novo e ele tava com a ti… a esposa e ela acho que era boa.
— Você ia falar “tia”. E… está me dizendo que ligaram para você contratando para matar alguém? (meu estômago disparou uma pedra de gelo) Você sabe que eu precisarei informar a polícia se você estiver pensando em…
— Vai me dedurar? É um trabalho.
— Não foge do primeiro assunto e nem do tratamento e muito menos tenta fingir que você acredita que é só um trabalho. Se fosse só isso você não estaria aqui. Que “tia” é essa que sempre aparece relacionada às mulheres de quem você matou ? (a pedra de gele derreteu e eu tive um insight)
— O doutor não ia entender. É coisa de homem.
Lembro que eu fiquei intrigado com o que aquilo significava e já estava preparado para ele tentar me desqualificar pela minha sexualidade. Mas também sentia que eu precisava ser firme, pois, algo estava acontecendo…
— Minha sexualidade não tem nada haver com isso (lembro que eu tive outro insight) e deve estar relacionado com essa “tia”. Qual a relação dessa tia aí com sexo?
— … eu… era… eu quis, minha tia, eu transei com minha tia só que ela era mais velha.
— Que idade você tinha?
— Eu tinha entre quatro e cinco anos. E ela eu acho que uns 30.
— Você foi ABUSADO…
Continua…
O amor que buscamos nas palavras que calamos
é uma publicação quinzenal aqui na IS.
Clique aqui para as promoções em nossa Estante Virtual! A Loja virtual da IS Editora! São muitos livros esperando você!
Indicação de Leitura
Que nem sempre se relaciona com o conteúdo dessa Newsletter
Assine nosso Substack e convide mais pessoas para nos conhecerem: substack.com/@imperiossagrados
Segue a gente nos perfis no Insta: @imperios_sagrados e @iseditora
Conheça mais o nosso site/blog: imperiossagrados.com.br
Envio de Manuscritos Originais: imperiossagrados@gmail.com
Obrigado por você estar por aqui e nos apoiar!
Conheça mais sobre nossa Equipe de Escritoras e Escritores na nossa página “Sobre” aqui no Substack!
Essa história fica cada vez mais impressionante