# 19❦ Amores, dores e pipocas literárias
"Adolescência" nos apresenta as camadas do desastre causada pela masculinidade tóxica, frágil e degradante que foi construída pelo patriarcado e alicerçada pela falta de afeto.
A série Adolescência desvela, com uma força inquietante, as camadas do desastre causado por uma masculinidade construída sob alicerces frágeis, tóxicos e degradantes. O patriarcado, sustentado pela ausência de afeto e pelo medo de ser visto como frágil, incute nos meninos a obrigação de serem duros, invioláveis, invencíveis. Mas o que acontece quando esse ideal de invulnerabilidade entra em colapso? A dor de não ter certeza sobre ser amado, sobre ser suficiente, abre espaço para discursos machistas que oferecem sentido ao vazio: transformam a vítima em mártir, os outros em inimigos, e o desejo de conexão em violência justificada. O crime de Jamie não é fruto do ódio puro, mas da angústia de quem precisa matar para não ser morto – emocional e simbolicamente.
Freud nos lembra que o amor e o trabalho são os dois pilares de uma vida psíquica saudável. Quando um adolescente é privado dessas dimensões — seja por estruturas familiares desfeitas, seja pela ausência de vínculos afetivos reais — ele é lançado ao mundo como alguém que ainda não pode se constituir plenamente. E se, como Lacan diz, "só o amor permite ao gozo condescender ao desejo", então a ausência desse amor gera um gozo destrutivo, sem limite simbólico, que se expressa em atos de agressão, violência, ou mesmo suicídio. Jamie não amou, não foi amado, não pôde desejar de forma humana — e, por isso, destruiu. Destruiu para não ser apagado.
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